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Balada Open Bar com promoções para mulheres gera polêmica - (Serra, ES)

Serra

Balada Open Bar e com entrada grátis para mulheres gera polêmica - Entenda

Entenda Balada Open Bar e com entrada grátis para mulheres gera polêmica

"Mulher VIP até 0h", "Open Bar reservado para mulheres", além de entradas com valores mais baratos para as mulheres são políticas adotadas na maioria das boates capixabas. As práticas dividem tanto estabelecimentos como o público feminino, que aponta o machismo como justificativa para um interesse sexual por trás dos possíveis benefícios.

O site ouviu casas noturnas de Vitória, Vila Velha, Serra e Guarapari. Assim como mulheres que frequentam os ambientes. As clientes falaram como percebem este tipo de prática. Os donos falaram sobre os motivos para a diferenciação sexual nos padrões de venda.

MULHERES
Para a advogada e cientista social Lívia Xavier, a cobrança diferenciada por gênero nas boates é uma prática que favorece o machismo e a objetificação das mulheres.

“A cultura é tão forte que nós passamos a vida toda achando que é um benefício, até compreendemos que é uma questão predadora. Essas coisas são feitas para atrair as mulheres, para que fiquem mais bêbadas e mais vulneráveis. Quando um homem vai a uma festa, ele se preocupa em ser roubado e coisas assim, mas eu duvido que ele se preocupe constantemente com o assédio, com o estupro, nós sentimos essa vulnerabilidade o tempo todo", destaca.
Esse tipo de iniciativa também foi condenada pela estudante de geografia Catarina Tosé.“É como se estivesse sendo vendida lá, as mulheres se tornam parte da decoração da festa. O objetivo é o homem ter a diversão dele garantida, que é pegar mulher e acaba se tornando comum as pessoas passarem a mão em você, te segurarem e te tocarem sem a sua permissão nesses locais”.

Já a estudante de odontologia Elizandra Frisso pensa que a política do ingresso diferente é positiva quando revertida em consumação."Acho justo porque eles costumam beber mais, quando o preço é só pela entrada no estabelecimento, acredito que valores iguais para os dois seja o ideal", comentou.

A estudante de publicidade Letícia Carvalho conta que frequentou boates que reservavam um espaço só para as mulheres beberem de graça até determinado horário.

"Quando esse horário acaba as meninas já estão bêbadas e mais vulneráveis. Conheço pessoas que acham normal e brigam para que não acabe, mas eu me sinto como um objeto se a balada não cobra entrada para mulher ou tem um valor muito divergente, principalmente porque o assédios nesses lugares chegaram a ser abusivos em alguns momentos", relata.

CASAS NOTURNAS
Woods Vitória
O proprietário Cláudio Souza afirma que os ingressos femininos são mais baratos que os masculinos na casa, mas disse que o modelo não vem de uma casa. "É um padrão cultural encontrado em todo o Brasil".

"O público feminino hoje é um grande formador de opinião porque é muito mais detalhista. São clientes que reparam mais na qualidade e são mais difíceis de agradar. Homem nem lembra o que fez ontem, tá ocupado em reunião, estão trabalhando", comentou.

Chegando à Woods, os estudantes Kaio e Glauco Silveira criticaram esse tipo de diferenciação.

"É muito discrepante o valor da entrada. Durante a noite, se não tem o número de pessoas que eles querem lá dentro vão abaixando o valor dos ingressos para as mulheres até fecharem a quantidade desejada. Para os homens nunca fazem esses descontos, acaba sendo bem injusto", afirma Glauco.

Why? Club
O subgerente Guilherme Ribeiro afirma que a casa segue um modelo adotado na cultura noturna capixaba. "Os valores mais baratos fazem a casa ficar cheia. Além disso, estamos vivendo um momento de crise, por isso decidimos trabalhar com esses valores promocionais", justifica.

Nova Club
O produtor da casa noturna, Fernando Henrique, conta que o espaço serve Open Bar só para mulheres em alguns dias da semana e também cobra ingressos mais baratos.

"As atrações são um adicional a mais na noite, o que o consumidor masculino espera na realidade é encontrar um lugar florido pela presença feminina, ou com uma boa quantidade de mulheres, sejam bonitas ou não. Acaba sendo uma publicidade a mais para o espaço.

Ele alega que o assédio no espaço físico se tornou menos frequente com as mídias online e não acredita que esse tipo de prática aumente a vulnerabilidade feminina.

"Quando ocorre assédio as mulheres já estão instruídas para dar um corte. Se for o caso do homem estar se comportando de maneira muito agressiva a gente dá um toque, troca de mesa, e a coisa se resolve da maneira mais natural possível", conta.

Na Nova Clube, a estudante de odontologia Sarah Magalhães e o estudante de direito Gustavo Alcuri concordam que prefeririam que as entradas fossem iguais para ambos. "Eu não me sinto confortável sabendo que pago um ingresso mais barato porque sou considerada um atrativo a mais para os homens que frequentam esse espaço", destaca Sarah.

Jurema Beach Bar
O diretor comercial Walder Xavier afirma que sempre adotaram a política de cobrar o couvert artístico mais barato das mulheres.

"Algumas festas colocamos couvert free para elas até as 22h, é uma forma de deixar a casa mais bonita e consequentemente atraímos os homens. Na matemática final, eles acabam pagando a mais para aliviar o lado delas, mas nunca passou pela minha cabeça nem como consumidor que isso daria algum direito a mais dos homens sobre as mulheres. Já aconteceram casos do homem ser muito agressivo e a mulher reclamar, mas nós acionamos segurança e retiramos a pessoa do espaço", relata.

Grupo Antimofo: Fluente, Bolt e Stone Pub
O produtor de eventos Arthur Araújo afirma que as casas não adotam nenhum tipo de taxação diferenciada entre gêneros.

"Nós somos contra essas práticas sexistas além de todo tipo de preconceito ou assédio, as mulheres só tem prioridade em festas temáticas do dia das mulheres. O público em geral aprende desde cedo a ser machista. Quando se você adota esse esquema, os homens vão para festa porque tem muita mulher, é um apelo sexual. Se acontece alguma violação aqui dentro a gente tenta constranger a pessoa, parar a festa, mas é muito difícil tirar do espaço sem um flagra", relata.

Enquanto esperavam na fila para entrar no Fluente, os estudantes de comunicação Layana, Matheus e Ivana falaram ao G1 que também não concordam com a taxação das entradas diferente por gênero. "É muito machista, as baladas que adotam a taxação diferenciada estão contibuindo para objetificação da mulher, querem atrair os homens transmitindo a mensagem de que o cardápioda noite vai ser variado", criticam.

Lua Azul
O administrador Tales Vaz declarou que a diferenciação dos ingressos acontece ocasionalmente. "A intenção é chamar mais público. Acaba funcionando como um marketing. A gente sabe que, se vier mais mulher, vamos atrair também os homens. Quando o ingresso fica mais barato para elas, não são os clientes que pagam, eu faço a opção de pagar por elas porque acredito que vai beneficiar meu estabelecimento", pontuou.

Usinaclub
O representante do Unsinaclub, Jucimar Rodrigues declarou que a casa cobra valores diferentes para homens e mulheres e também realiza de festas com open bar exclusivo para o público feminino. Segundo ele, isso é feito porque os homens tem um poder aquisitivo maior. "Tem muitas mulheres que trabalham, mas as meninas mais novas que saem não tem uma grana boa para gastar. O bom para gente seria colocar o valor igual, mas a gente segue uma demanda dos clientes", acrescenta.

Correria Music Bar
Em nota, o Correria afirmou que não trabalha com Open Bar e que a entrada nos eventos organizados pelo espaço não tem diferença de preço masculino/feminino, salvo festas promovidas por terceiros.

Villa Bohemia
A boate foi procurada e não se manifestou até o fechamento da matéria.

SINDBARES - Sindicato dos restaurantes, bares e similares do Espírito Santo
A assessoria do Sindbares informou em nota que as os estabelecimentos privados tem autonomia para estipular os valores do ingresso e dos produtos comercializados em seu interior. Eles apontam para o princípio da livre iniciativa, garantido pela Constituição.

Ponto de vista jurídico
Segundo a advogada Camila Tiengo Zumerle, não há respaldo legal para a prática de cobrança diferenciada para homens e mulheres que frequentam os mesmos lugares e consomem os mesmos produtos. Isso porque a própria Constituição Federal assegura em seu artigo 5º, I, que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações.

"Já se tornou uma prática corriqueira efetuar cobrança diferente de acordo com o gênero para frequentar determinadas baladas e festas. Essa distinção fere o princípio da igualdade que gere o nosso ordenamento jurídico e contribui ainda mais para acentuar a discrepância no tratamento conferido a homens e mulheres", defende Camila

Ela acrescenta que esse tipo de prática pode contribuir para reforçar a discriminação histórica sofrida pelo gênero feminino.


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