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Os crimes de ontem e os crimes de hoje - (São Mateus, ES)

São Mateus

Os crimes de ontem e os crimes de hoje - Gustavo De Biase

Gustavo De Biase Os crimes de ontem e os crimes de hoje

A comissão nacional da verdade entregou o relatório constando os crimes bárbaros cometidos pela ditadura militar no Brasil. Composto por três longos volumes o documento faz um minucioso percurso do Estado de exceção no Brasil ocasionado pelo golpe de 1964. Relatos apontam que o Espírito Santo não ficou de fora dos macabros atentados contra a vida, a democracia e os direitos humanos. Estudantes, trabalhadores, camponeses e militantes eram os alvos da repressão. 

Um dos casos relatados trata de uma estudante da UFES que foi presa e torturada, e grávida, sofreu um aborto. O 38° Batalhão de Infantaria foi apontado como local de tortura dos fatos ocorridos em nosso estado e no país e como disse Chico Buarque relatos da “página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória, das nossas novas gerações”. A ditadura militar foi um episódio sangrento de um regime, como, infelizmente, temos vários exemplos na história mundial, das mais variadas colorações ideológicas. 

A presidenta da república, ao receber o relatório produzido pela comissão, não conteve a emoção. O choro foi e é justificável pela história de vida da presidenta, que também foi vítima da ditadura. Porém, os crimes são diários e creio que a comoção de um governante deva ir para além das violências que se chocam com sua vida pessoal. A sensibilidade, ao contrário do que a própria presidenta afirmou certa vez, é muito importante para um governante, pois a indignação pode servir de motor na defesa de mudanças. 

É realmente uma pena que a presidenta não tenha se comovido à altura nos desvios da Petrobrás! Não chorou quando viu que, ora sob a presidência do conselho da estatal, ora como presidente da república, os desvios do dinheiro público foram realizados em sua gestão e chefia. Não se trata, pois, como costumam acusar, de moralismo, é um fato! O dinheiro desviado poderia ter servido para promover saúde, segurança, educação, mas, estava à revelia da lei, da sociedade civil e opinião pública (os donos do dinheiro) servindo a interesses privados e partidários não publicáveis. O Espírito Santo, assim como nos crimes de ontem, também não ficou de fora. 

Relatos apontam desvio de oito milhões na sede da Petrobrás aqui no Estado. Se isso não faz chorar, talvez a compreensão de que o valor desviado daria para garantir atendimento médico aos pacientes que morreram na porta dos hospitais aqui no estado, incluindo o bebê morto por pneumonia após esperar três dias por uma vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (Utip), em São Mateus, no dia 14 de Julho. São essas as pessoas roubadas. São essas as vidas roubadas pela corrupção no poder público.

Caetano já dizia que “Enquanto os homens exercem seus podres poderes, morrer e matar de fome, de raiva e de sede, são tantas vezes gestos naturais” e talvez seja essa a questão a principal. Enquanto os seres humanos continuam produzindo determinadas compreensões políticas, sejam “cidadãos de bem” ou “militantes engajados” defenderão, repudiarão ou realizarão crimes a partir de conveniências. 

Em um tempo de criminalizações, por parte da esquerda e da direita, podemos lembrar-nos da filósofa judia Hanna Arendt, através do conceito de “banalidade do mal”, como pessoas comuns podem produzir atos monstruosos a partir de determinada concepção de política e sociedade, a partir da noção de que os fins justificam os meios: 

"Há alguns anos, em um relato sobre o julgamento de Eichmann em Jerusalém, mencionei a banalidade do mal. Por mais monstruosos que fossem os atos, o agente não era nem monstruoso nem demoníaco; a única característica específica que se podia detectar em seu passado, bem como em seu comportamento durante o julgamento e o inquérito policial que o precedeu , afigurava -se como algo totalmente negativo: não se tratava de estupidez, mas de uma curiosa e bastante autêntica incapacidade de pensar."


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