O
executivo se diz surpreso. "Eles [a Match] anteciparam a devolução em
dez dias. Acho que até mesmo eles não esperavam", aponta. Na região,
Chalita afirma que os preços altos não são um problema. "As diárias
variam de R$ 200 a R$ 250, e ficamos no meio do caminho entre outras
duas cidades-sede, Recife e Fortaleza".
Em Manaus, no Amazonas, Roberto Simão Bulbol, presidente da
ABIH do Estado, conta que a Match nem chegou a formalizar o acordo com
os hotéis da região. Foi feito apenas um acordo informal sobre
possibilidade de bloqueios de quartos.
Temerosos por
perder clientes corporativos, que recebem na cidade durante todo o ano,
70% dos hotéis desistiram de esperar a Match e resolveram comercializar
os quartos no mercado. A ABIH representa cerca de 50% da hotelaria na
região.
Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a
devolução de quartos reservados pela agência variou de 30% a 40%, conta o
presidente da ABIH do Estado, Carlos Henrique Schmidt. "Surpreendeu.
Não tínhamos expectativa que fosse nesse nível", conta o empresário. O
número representa cerca de 1 mil apartamentos. A Match reservou 3 mil
apartamentos na cidade, que tem em torno de 10 mil leitos.
A
estimativa, conta Schmidt, é que a devolução chegue a 50% até o prazo
final, cerca de dois meses antes do evento. "Porto Alegre está sem
espaço para abusos de preços. Quem achar que vai ficar milionário com a
Copa, vai micar".
Guilherme Verdun, gerente comercial
do Diplomata Hotel, em Cuiabá, em Mato Grosso, conta que a devolução na
rede atingiu 20%. "Muitos disseram que iam faltar leitos na cidade. Mas
alguns jogos não estão tendo demanda".
Em Curitiba, no Paraná, a devolução de quartos em alguns hotéis chegou a atingir 25%.
Procurada,
a Match informa que já contratou parte dos quartos de mais de 800
hotéis em todo o País, principalmente na faixa de três a cinco estrelas
Critérios para iberação de quartos
Iniciadas
em dezembro de 2013, as liberações de quartos reservados pela Match,
segundo a agência, seguiram o período inicial de vendas depois do
sorteio final dos jogos, em 6 de dezembro, e aconteceram em antecipação
ao prazo contratual de 31 de janeiro deste mês. A previsão era liberar
até essa data ao menos 50% dos pernoites que não tivessem sido
distribuídos aos clientes.
A Match aponta que a
devolução de quartos segue a seguinte ordem: propriedades inteiras pelas
quais não havia demanda (hotéis localizados principalmente, mas não
exclusivamente, fora das 12 cidades-sede), redução do período total pelo
qual alguns dos quartos foram reservados, liberação de pernoites pelos
quais não houve demanda (em muitos casos, noites em que nenhuma partida
estará acontecendo na respectiva cidade-sede ou partidas nas quais a
oferta ultrapassa a demanda por hospedagem).
A agência
da Fifa, em nota, aponta que manterá em estoque os pernoites já
vendidos, assim como uma reserva de quartos remanescentes para uma
demanda maior esperada para períodos de pico. "As reservas efetivadas
são muito positivas", resume. A Match diz não ser possível colocar as
devoluções em porcentuais.
Empresários citam dificuldades
Como
dificuldades para uma ocupação maior em Natal, Chalita fala em apagão da
aviação, com voos concentrados em poucas companhias, aliados à grande
extensão do País. "O turista vem acompanhar sua seleção. Mas as seleções
vão rodar muito. Ele não vai conseguir acompanhar".
A Fifa
inicialmente havia proposto que os jogos acontecessem em apenas oito
cidades. A intervenção do governo para que o Mundial no Brasil fosse
realizado em 12 locais, em um país com dimensões continentais, estressou
a malha aérea, na visão dos empresários. Isso se reflete na ocupação
mais baixa no setor hoteleiro.
Diante
deste cenário, Schmidt acha difícil comparar a ocupação dos hotéis no
País com Copas anteriores. "A opção por não concentrar jogos por chave
em determinada região também não contribui. As cidades ficam dependentes
da malha aérea. Existem jogos de algumas seleções que, em três dias, o
torcedor teria que ir de Porto Alegre para Fortaleza. Praticamente
cruzar o País inteiro".
Os hoteleiros também indicam preços altos. "Fechamos com a
Match uma diária de R$ 550. A agência fica com uma comissão de 30%",
diz Schmidt, de Porto Alegre. "É mais fácil viajar para o exterior do
que fazer turismo nacional em alguns casos", conclui Chalita.
Concentração em algumas praças
Alfredo
Lopes, presidente da ABIH no Rio, é uma voz dissonante em meio a
lamúrias. Perguntado sobre se houveram devoluções de quartos, ele não
teve notícia disso. "Pelo contrário, estão procurando", conta. "A
devolução de quartos era esperada em algumas regiões. Mas, no Rio, nunca
foi cogitada".
A ocupação na cidade que irá sediar a final do
Mundial e que também é preferida dos turistas estrangeiros, conta o
empresário, já chega perto de 90%. A demanda alta foi um impulso para
tarifas médias atingirem R$ 1 mil na cidade, segundo levantamento do
site de comparação de preços Trivago.
Lopes prevê que a Copa irá
inverter a equação de turistas estrangeiros e nacionais. "Esperamos que
70% da rede hoteleira seja ocupada por turistas estrangeiros. No
Réveillon e no Carnaval, 60% a 70% dos turistas são brasileiros".
Em
Salvador, na Bahia, a ocupação também vai bem, segundo Manolo Garrido,
presidente da ABIH do Estado. "A cidade foi contemplada com jogos de
seleções importantes e existe uma procura intensa por reserva nos
hotéis", conta.
A expectativa é ter 100% de ocupação da rede
hoteleira nos dias de jogos na cidade, sobretudo nas partidas entre
Portugal e Alemanha e Espanha e Holanda. Nos demais dias, a ocupação
deverá oscilar entre 80% a 90%.
Quebra-cabeça complexo
Bruno
Omori, presidente da ABIH em São Paulo, também não está otimista. "O
único dia que irá lotar a cidade é a abertura. Logo depois, a ocupação
deve cair para 40%", estima. "Há intervalos de sete dias entre jogos na
cidade. Não há o que fazer neste período".
Em sua opinião, hotéis
que não fecharam com a Match na cidade, estão "perdidos". "Quem fechou
está devolvendo quartos, imagina quem não fechou. A cidade vai sediar
jogos pouco atrativos".
A devolução de quartos de hotéis pela
Match no Recife, em Pernambuco, girou entre 10% a 15% até agora, diz
Carlos Maurício Piriquito. "Sempre olhei a Copa com cautela. Recebemos a
última nos anos de 1950. Não temos experiência. Mas, ao menos aqui,
temos com grandes eventos, como o Carnaval".
Um gerente de um hotel em Belo Horizonte, que não quis se
identificar, também conta que a cidade vem recebendo um bom fluxo de
turistas. "A devolução aqui foi, de, no máximo, 10% dos quartos.
Acreditamos que vamos ter poucos problemas. Daqui é fácil se deslocar
para o Rio, Salvador e Brasília. Temos este privilégio de estar no
centro do País".
Vice-presidente da ABIH do Distrito
Federal, Plinio Mendes Rabelo Junior não arrisca previsões sobre a
ocupação em Brasília. "Estamos com o pé no chão. Sabemos que muitos
países europeus estão em crise. Não há uma onda de euforia". Ele indica,
porém, que já houve devoluções de quartos na cidade.
Em
Fortaleza, que irá sediar dois jogos da Seleção Brasileira e um da
Alemanha, hotéis não reclamam da procura por reservas, apesar de um
deles apontar devoluções de quartos na cidade.
Incentivos a mais e expectativa
Para
Schmidt, as devoluções precoces de quartos pela Match, por outro lado,
dá tempo hábil para buscar alternativas. "A Fifa se resguardou de
problemas. Agora a gente tem de resolver".
Ele espera que a
demanda se consolide dois meses antes do evento. "Por enquanto temos
muito bloqueios. Poucas pessoas são precavidas para reservar hospedagem
de forma adiantada".
Para atrair turistas a partir de
agora para Natal, sem a comodidade de pacotes que incluam ingressos,
como os oferecidos pela Match, Chalita anuncia que o foco serão
hospedagens fora de pacote, com mais flexibilidade. "O estádio fica
perto dos hotéis. Isso facilia a mobilidade". A cidade oferece cerca de
28 mil leitos.
Os empresários esperam a definição de mais voos
após a divulgação da nova malha aérea durante o evento esportivo, que
podem impulsionar a vinda de mais turistas.