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O último domingo de Jerônimo Monteiro no Poder - (Piúma, ES)

Piúma

O último domingo de Jerônimo Monteiro no Poder - Parque Moscoso

Parque Moscoso O último domingo de Jerônimo Monteiro no Poder

O Parque Moscoso foi certamente a última inauguração importante no governo de
Jerônimo de Sousa Monteiro (1908-1912). O dia 19 de maio caiu num domingo. Na
quinta-feira, Jerônimo transferiria o cargo de presidente estadual para o sucessor,
Marcondes de Souza (1908-1912). O aterro começara bem antes, quando área ainda era
conhecida como Lapa do Mangal, uma gleba de mangue separada da cidade alta por um
braço de mar que ligava o Porto dos Padres ao Cais de São Francisco. Derenzi e Elton
confirmam que fora aquela uma doação da família Subtil à Província do Espírito Santo
e que o aterramento iniciara no governo de Henrique Moscoso, quatro meses depois
da Abolição. Exatamente por isto os trabalhadores que removeram a terra do morro da
Santa Casa foram remunerados, inclusive os presos recrutados na ocasião. Aterrada, a
área ficou conhecida como Campinho. A nomenclatura só seria mudada pela Câmara
Municipal para Vila do Moscoso depois da morte do patrono, em 1889.

Originalmente, o projeto era de um loteamento. Alguns lotes chegaram a ser vendidos,
com arruamento e tudo. Nossa pequena ilha estava carente de um espaço novo. Aterro
semelhante já havia sido feito no que hoje conhecemos como Praça Costa Pereira e em
outros pontos tomados ao mar. Quando já estava para virar parque, o antigo terreno de
Marinha foi aforado, com os lotes desapropriados pelo governo estadual. A Prefeitura
de Vitória, criada em 1909, ainda estava se estruturando. O prefeito era nomeado pelo
governador. Nos quatro anos de Jerônimo Monteiro ele nomeou cinco prefeitos para
Vitória: Ceciliano Abel de Almeida, José Bernardino Alves Junior, Antonio Francisco
de Ataíde, Cassiano Cardoso Castelo e Wlademiro Fradesco de Oliveira. Até então
a cidade era administrada pelos vereadores que anualmente elegiam um deles como
Intendente, com funções executivas.

O próprio Jerônimo Monteiro residia nas imediações do Parque Moscoso, onde há até
hoje uma bela e conservada residência de seus descendentes erguida em 1914. Ele era
de Cachoeiro de Itapemirim, nascido na célebre fazenda Monte Líbano – pertencente
a mais bem sucedida oligarquia da República Velha (1889-1930) no Espírito Santo.
Sendo um cachoeirense que se esmerou no projeto de industrialização no vale do
Itapemirim, é notável que Jerônimo Monteiro tenha investido tanto em Vitória. A última
grande intervenção governamental na capital vinha do tempo do vitoriense, Moniz
Freire (1992-1996 e 1900-1904), que projetara o Novo Arrabalde, hoje Praia do Canto e
adjacências. Nos seus dois governos, Moniz Freire cuidara de dar centralidade a Vitória,
com o início das ferrovias ligando a Capital ao sul e a Minas. Antes, Vitória marcava
passo como a capital de direito, já que de fato era Cachoeiro de Itapemirim o centro
mais desenvolvido.

Jerônimo Monteiro empreitou para as obras do Parque Moscoso um velho amigo
coronel Antonio José Duarte, lendário chefe político de Piúma/Iconha. Este coronel,
rico comerciante de café naquela região, fez outras obras para o governo – sem licitação
pública, que não existia à época. O ajardinamento ficou a cargo de um experiente
profissional, Paulo Motta. O trabalho de conclusão do aterro, terraplanagem e do horto
durou dois anos. Os muros circundando o parque só viriam muito depois.

A inauguração do Parque Moscoso tinha para Jerônimo Monteiro um valor especial.
Seu governo apresentara muitos fracassos, se considerado o ambicioso plano original da
sua administração. Fora eleito sem concorrentes pelo Partido Republicano Construtor
e, durante seu mandato, fundou o Partido Republicano Espírito-Santense. Este partido
chegou a reunir o conjunto das forças política capixabas, antes fragmentadas com a
decadência da liderança de Moniz Freire. Porém, chegava ao final do seu governo sem a
unanimidade da qual soubera tirar proveito político no início.

É que escolhera, como sucessor um coronel interiorano de Muqui, só porque era da
inteira confiança do seu irmão, Bernardino Monteiro. Contra esta decisão tomada no
âmbito familiar irrompeu forte oposição. O candidato oposicionista foi um militar,
Getúlio dos Santos, médico particular do então presidente da República, Marechal
Hermes da Fonseca. O oposicionista apresentou-se candidato pelo Centro Espírito-
Santense, entidade criada por Afonso Cláudio, composta por capixabas ilustres
residentes na Capital Federal e muito influente no Espírito Santo. A disputa se dera
acirrada, inclusive com pedido de intervenção federal, para impedir a posse de
Marcondes de Souza.

Ao final, Jerônimo Monteiro conseguiria confirmar o próprio sucessor, pela influencia
do poderoso coronel mineiro, Francisco Sales, grande protetor de Jerônimo Monteiro
nas horas mais difíceis. Mas dali em diante passaria a colecionar incontáveis inimigos.
Tentaria por três ou quatro vezes voltar ao governo, mas não conseguiria sequer ser
candidato. Naquele domingo, portanto, no Parque Moscoso, o oligarca, já aliviado da
refrega política recentíssima, se despediria publicamente do poder, embora a oligarquia
por ele fundada fosse tanger por quase todo o século os destinos do Espírito Santo.

Namy Chequer é jornalista,
vereador de Vitória e morador
do Parque Moscoso


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