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Com ou sem flúor? - (Alegre, ES)

Alegre

Com ou sem flúor? - Alegre

Alegre Com ou sem flúor?

Com ou sem flúor?




Apontado com raras ressalvas como o principal combatente das cáries durante duas décadas, o uso de cremes dentais com flúor foi posto em xeque por uma corrente da odontopediatra.

Para esses especialistas, a escovação feita com produtos fluorados seria contra-indicada para crianças com idade inferior a seis anos, devido ao risco de fluorose - espécie de intoxicação que causa manchas brancas ou escuras e corrosão nos dentes definitivos e, em casos extremos, também na dentição de leite.

A discussão ganhou força em países como Estados Unidos e Canadá, onde se defende o combate ao consumo indiscriminado da substância definida no Aurélio como "tóxica e reativa".

O grupo argumenta que as crianças estão expostas a uma ingestão excessiva de flúor. Além do creme dental, a água consumida nos grandes centros (tanto a de abastecimento quanto a maioria das minerais engarrafadas) e alguns alimentos (como o chá preto e o espinafre) também contêm a substância. Além disso, nos primeiros anos, é praticamente inevitável que a criança engula pasta de dente durante a escovação, o que potencializa o risco.

Um termômetro de que a polêmica chegou ao Brasil é que já se podem encontrar no mercado opções de pasta ou de gel dental infantil sem flúor -as das marcas Weleda, Malvatrikids Baby e InPhlOral são exemplos.

Em contrapartida, nos supermercados, a maioria das alternativas que os pais encontram expostas nas prateleiras é fluorada. A Colgate lançou recentemente a pasta do Barney, cuja concentração de flúor é a metade da observada nas marcas infantis tradicionais.


Para quem não quer optar por um produto livre da substância, vale levar para as crianças marcas que tenham menor concentração


"Todos acham que pasta fluorada é melhor, mas o flúor dela deve ser de uso tópico, sem ingestão. Quando ingerido, age sobre os dentes em formação, danificando-os", explica a odontopediatra Tânia Lima Barbosa. Em sua tese de mestrado, ela ouviu 501 mães das classes média e média alta sobre cuidados com a dentição infantil. Dessas, 59% não sabiam qual seria o melhor creme dental para os filhos.

"Até os quatro anos, enquanto a criança não tem controle do bochecho, o ideal é usar pasta sem flúor. Dos quatro aos seis, as pastas com pouco flúor são as mais indicadas", esclarece.

"Não sou contra o flúor. O que defendo é que o uso dele na infância deve ocorrer no consultório, com supervisão", afirma a odontopediatra Márcia Amar, que desenvolveu a linha de higiene bucal infantil sem flúor InPhlOral baseada em similares norte-americanas.

"Para um bebê, por exemplo, a dose [de flúor] ingerida por todos esses meios se torna excessiva. É importante saber que 50% dela são excretados, mas 50% permanecem no corpo, sendo absorvidos por dentes e ossos", comenta a dentista. "A grande questão aqui é refletir se trocaremos o risco de desenvolver cáries pelo risco de fluorose."

Mãe de Caio, 18 meses, a jornalista Daniela Graicar, 27, segue a recomendação. "Levei-o ao dentista aos três meses porque há pouca informação disponível sobre higiene bucal de bebês. Ouvi as explicações e concluí que o flúor pode realmente ser prejudicial, por isso preferi não usar a pasta dental comum", conta.

Já a designer Luciana Mafra, 29, que se diz "simpatizante da medicina natural", sempre usou as opções de creme dental fluorado para escovar os dentes da filha Ana, 17 meses.

"Gostaria de escovar com casca de juá, mas é muito difícil de encontrar em um centro urbano como São Paulo. Pelo aspecto prático, acabo recorrendo ao supermercado, onde as pastas têm flúor", conta Mafra. Sobre o fato de a filha ingerir o creme dental, ela não tem dúvidas. "Por mais que eu oriente, ela come mesmo. Nessa idade, não tem jeito."

INDISPENSÁVEL
"O flúor é a melhor coisa que a odontologia já produziu para o combate às cáries." A defesa de Rui Oppermann, diretor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, e consultor da ABO (Associação Brasileira de Odontologia), é enfática.

O especialista concorda que o uso abusivo da substância pode de fato significar um problema, mas acredita que a pasta dental fluorada deve continuar sendo usada pelas crianças, mas em quantidade mínimas.

"A aplicação tópica, ou seja, a que é feita sobre os dentes, é a mais eficaz. Abrir mão dela é abrir mão de uma proteção", alerta. "Os pais devem estar atentos à quantidade de creme dental usado. O correto é usar uma porção pequena, do tamanho da unha do dedo mindinho da criança", recomenda.

Para Marcelo Bonecker, professor de odontopediatria da Universidade de São Paulo, a decisão de seguir com a pasta fluorada ou trocá-la por uma sem flúor não deve ser dos pais, e sim do dentista que acompanha a criança.

"O flúor é um artifício eficiente para controlar as lesões de cárie, pequenas manchas que podem se alastrar se convertendo em cavidades, caso não sejam tratadas", explica. "É uma espécie de remédio, e há crianças que realmente não precisariam dele", completa.

Para Bonecker, assim como usar pasta fluorada não seria necessário para todas as crianças, optar pelo creme sem a substância também não é uma decisão válida para todos os que têm idade inferior a seis anos.

"É preciso considerar fatores como a dieta alimentar e os hábitos de higiene bucal para avaliar o risco de cárie na criança. Só a partir dessa análise é possível optar por uma ou por outra alternativa", ensina o especialista.

O flúor contido nos cremes dentais é encontrado em concentrações de 800 a 1.500 ppm (partes por milhão). Na maioria das pastas infantis comuns, a quantidade fica em torno de 1.100 ppm. Por isso, para quem não quer optar por um produto livre da substância, vale comparar o número na hora de comprar e escolher a marca que tenha menor quantidade.

A concentração de flúor na água de abastecimento é muito inferior (cerca de 0,7 a 1 ppm). Já as aplicações realizadas em consultório são as mais concentradas: 12 mil a 15 mil ppm, porém são feitas esporadicamente.

O fato é que, uma vez estabelecida a fluorose, é preciso partir para um tratamento estético a fim de se ver livre das seqüelas deixadas nos dentes pela intoxicação.

"As manchas no esmalte são definitivas e não há como disfarçá-las. Para removê-las, é preciso usar técnicas como a microabrasão, o desgaste com a broca e o revestimento com resina", esclarece o dentista Halley Maroja, que trabalha com odontologia estética.

Para Márcia Amar, há ainda um forte impacto psicológico para a criança que se vê com a dentição definitiva manchada. "Já tive um cliente de oito anos que tinha vergonha de sorrir por causa das manchas. Depois que corrigimos, ele fala que se tornou mais feliz e que quer ser dentista para ajudar as pessoas."

FIO DENTAL
Além da fluorose, as gengivites estão no rol das preocupações atuais da odontopediatria. Nesse caso, a culpa é da falta de uso de fio dental, que só começa a fazer parte dos hábitos higiênicos geralmente na adolescência.

Em um projeto itinerante de orientação e tratamentos odontológicos, o "Construindo Sorrisos", a dentista Letícia Pezinelli, da Fundecto (Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Odontologia, conveniada à USP) diz que tem observado mais casos de gengivite do que de fluorose.

"Ensinamos a criança a escovar os dentes desde cedo, mas demoramos a introduzir o fio dental. A partir dos três anos, quando a dentição de leite já está completa, é preciso fazer pelo menos uma escovação acompanhada do fio dental. O importante é iniciar o hábito na rotina da criança", observa Pezinelli.

Negligenciar o fio dental pode causar a periodontite, moléstia na qual bactérias danificam a ossatura amolecendo os dentes, o que pode levar à perda deles. Na infância, o espaçamento entre dentes de leite facilita a limpeza com a escova, mas é quando se deve iniciar o indispensável ritual de prevenção.

Folha de São Paulo


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