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Lula da Silva: entre o impossível e o improvável - Editorial

Editorial Lula da Silva: entre o impossível e o improvável

Existe uma distinção oportuna entre o impossível e o improvável. O impossível não pode acontecer jamais. O improvável somente acontece de forma rara. Por ironia, é mais fácil acreditar no impossível. Basta sonhar. Enquanto isso, o improvável é baseado em racionalidade. Não abre concessão alguma ao sonho.

Essa diferença talvez explique a situação inusitada da campanha presidencial de Lula da Silva.

Desde que foi acusado e condenado por corrupção, Lula inaugurou nas eleições de 2018 uma zona de dúvidas. Sua candidatura insiste em tentar avançar. Muitos o apoiam. Pesquisas eleitorais incluem seu nome. Os resultados apontam ser o preferido. Até onde isso faz sentido, considerando a situação legal do candidato e o legado político lulista?

O ex-presidente tem recebido o benefício da dúvida. Para efeitos midiáticos, Lula é candidato e preferido. Isso não esclarece muito. Se ambiguidades atrapalham a decisão dos eleitores, a candidatura de Lula precisa ser explicada. Uma chance possível para isso é distinguir em sua campanha o que é impossível e o que é improvável.

Para começar, a candidatura de Lula é impossível. Ela não acontecerá. Lula foi condenado em segunda instância. Segundo a lei da Ficha Limpa, políticos nessa situação somente podem concorrer oito anos após o cumprimento da pena. Pareceres da Justiça afirmam cada vez mais que o ex-presidente é inelegível. Há esforços em abundância para impugnar sua candidatura.

Nada disso, no entanto, é motivo para desacreditar na candidatura de Lula. Nada impede de incluir o ex-presidente em pesquisas eleitorais; de reservar a ele um assento vazio em debates; de considerar sua prisão um ato político. Por ironia, sonhar no impossível é perfeitamente possível. Em política, sempre existe essa parcela inescapável de pós-verdade.

Enquanto isso, a preferência do eleitor por Lula da Silva parece ser improvável. E menos importam os resultados das pesquisas eleitorais. Não é o caso de afirmar que são falseadas, compradas ou enviesadas. O que realmente incomoda é a maneira como seus resultados não parecem corresponder a uma realidade que foi de fato testada.

Esse teste de realidade aconteceu durante as carreatas do ex-presidente. Realizada antes da prisão, seus resultados foram pífios. Nos estados do sul, Lula foi hostilizado. Em outros estados, foi recebido com frieza. Seus comícios mal ocupavam praças. No geral, conseguia falar somente a plateias ideologicamente saneadas.

Surge dessa forma um Lula candidato, que é impossível; e um Lula preferido, que é improvável. Eles não são exatamente contraditórios. Ou pelo menos não parecem ser. A verdade talvez surgisse de um teste eleitoral. Em política, às vezes é preciso pagar para ver.

Daí a solução inusitada de permitir que Lula da Silva simplesmente participe da disputa. Foi o que sugeriram alguns analistas do mercado financeiro. Sua participação – e provável derrota – poderiam desfazer essa ambiguidade. Depois disso, o mercado e o eleitorado decidiriam sem a interferência desse ruído.

A hipótese, no entanto, é impossível. Como dito, Lula está legalmente afastado da disputa. Além disso, é perigosa. Se ocorresse – e pode ocorrer, nada é totalmente impossível –, seria uma fissura judicial de alto impacto. Finalmente, é imprudente aos detratores do lulismo. Pode ser que as pesquisas eleitorais sejam um indicador confiável. O mercado, por exemplo, está comprando o resultado delas. Lula sobe, bolsa de valores desce.

De qualquer forma, a hipótese não faz diferença. O que importa em Lula é o seu capital político. É sem dúvida influente. Foi capaz de eleger um "poste" como Dilma Rousseff. E poderia repetir a façanha. Para o mercado, o risco é cada vez mais provável. Isso explica por que a ascensão de Lula mais uma vez assusta a bolsa de valores. O temor não é o de Lula ser eleito. É o de que eleja um novo sucessor.

- A redação.


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