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Debates eleitorais: onde está João Amoêdo? - Editorial

Editorial Debates eleitorais: onde está João Amoêdo?

Em política, a palavra não consegue ser tão eloquente quanto o silêncio. Eis a lição inevitável dos primeiros debates presidenciáveis de 2018. Mais relevante que a lista de presença, só mesmo a lista de ausência. Os lulistas e os entusiastas de Luciano Huck que o digam. Mas existe alguém que tem feito muito mais falta. Não, esse alguém não está impedido por motivos penais. E também não desistiu de concorrer. Está no páreo, é legalmente apto e poderia interessar.

Onde está João Amoêdo, o candidato liberal?

Importa esclarecer que não existe obrigação legal de incluir Amoêdo nos debates. Seu partido, o Novo, não possui o mínimo de cinco representantes no Congresso. Nesses casos, a emissora decide se irá ou não convidar o presidenciável. Marina Silva, por exemplo, recebeu o convite. Seu partido possui somente três congressistas. Em compensação, seu desempenho é relevante em pesquisas eleitorais, vantagem que garante seu assento.

João Amoêdo ainda não desfruta do mesmo prestígio. Sua preferência eleitoral mal chega a 1%. E seus simpatizantes parecem escassos. Um abaixo-assinado online solicita sua inclusão nos debates. O número de assinaturas não surpreende. Uma conclusão precipitada diria que Amoêdo não faz diferença. Pois o que importa em Amoêdo não é a quantidade de eleitores, mas a qualidade das ideias que se propõe representar.

Amoêdo explora um discurso ainda recente, ressurgido quase em reação às mesmices conservadora e progressista. Esse discurso é o liberalismo. Por muitos anos esse discurso foi um tabu. Somente agora escapa do ostracismo e volta a ser uma vertente completa, com propostas, tradição, pensadores e até mesmo um candidato a presidente. E se Amoêdo não é o melhor representante do liberalismo, ao menos é o "menos pior" que pode ter.

Avaliando suas declarações, é justo concordar que Amoêdo é o único candidato liberal para além do primeiro parágrafo. Defende privatizações, reformas, alívio tributário, desregulamentação. Talvez seja hesitante em relação aos costumes. É conservador, por exemplo, em temas como aborto. Em compensação, mantém em economia uma postura liberal desimpedida, sem a contradição dos que se dizem liberais e ao mesmo tempo nacionalistas.

Chama atenção também a filiação de Amoêdo. É presidenciável pelo Novo, partido que ajudou a fundar. O Novo parece coerente com sua proposta liberal. Recusa verba partidária. Obtém recursos por meio de contribuições voluntárias. Preferiu não se coligar. Tenta aplicar em si o que propõe com alguma candura à gestão pública: eficiência meritocrática e empresarial. É um projeto que se destaca dos demais partidos, cuja sanha populista os igualou entre si.

Finalmente, Amoêdo poderia gerar interesse até mesmo entre os de menor posse. É o que indica uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, realizada em 2017 na periferia de São Paulo. Os entrevistados manifestaram postura econômica bastante liberal. Criticam a carga tributária, desprezam a intrusão do governo e acreditam no valor do  mérito pessoal. Quem sabe, poderiam se sentir interessados pelas propostas de Amoêdo.

Tudo isso sugere que incluir João Amoêdo nos debates seria relevante ao eleitor. Mesmo sem votar nele, muitos provavelmente gostariam de conhecer sua perspectiva. O convite seria interessante também à emissora. Amoêdo poderia atrair a audiência de brasileiros curiosos ou simpáticos ao liberalismo. Além disso, seria uma forma de apimentar as discussões. Sem passado político, Amoêdo estaria livre para causar um divertido mal estar.

Se não for pela eleição, que seja ao menos pela audiência. Incluir João Almoêdo talvez espantasse o tédio dos debates, que praticamente se tornaram uma "troca de elogios" entre populistas e sociais democratas que, no fundo, aprenderam demais a concordar entre si.

- A redação.


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