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Lucas Polese: liberal, atuante e perseguido por Casagrande - Entrevista

Entrevista Lucas Polese: liberal, atuante e perseguido por Casagrande

Estudante de administração e consultor político, Lucas Polese é uma voz liberal jovem e autenticamente capixaba. Criou o Instituto Liberal do Espírito Santo (Iles) baseado na oportunidade: "o liberalismo encontra mais receptividade no país". Além disso, o Instituto satisfaz uma carência que o incomodava: "não havia movimentos capixabas para fiscalizar a classe política". Seu trabalho chama atenção e também incomoda. Até o momento, duas de suas postagens nas redes sociais geraram processos por parte de Renato Casagrande, ex-governador do estado. Em entrevista ao Capixabão, Lucas expõe suas ideias, avalia o liberalismo no Brasil e explica o Iles. Ele também comenta sua polêmica com Casagrande: "[é] uma atitude antidemocrática, está tentando censurar nosso trabalho".

Como surgiu a ideia de criar o Instituto Liberal do Espírito Santo?

Na época, surgiam no Brasil diversos movimentos voltados a ideias liberais. É o caso do MBL, do Vem Pra Rua. Mas não havia nada parecido no Espírito Santo. Não tínhamos movimentos com objetivo de fiscalizar a classe política. Criei o Instituto Liberal do Espírito Santo (Iles) para superar essa limitação. Os resultados felizmente tem sido positivos. Firmamos parcerias com outros grupos, como o Domingos Martins. Nas redes sociais, nossos posts alcançaram mais de cem mil curtidas e compartilhamentos. Participamos de eventos e de manifestações. Também recebemos convites para palestras e debates.

O Iles possui discurso liberal. O liberalismo encontra receptividade no Brasil de hoje?

Sim, encontra. Vivemos uma fase positiva para o liberalismo. Passamos por mais de uma década de socialismo. Ela produziu um estado grande demais, com uma máquina pública sobrecarregada por impostos, por funcionalismo, por burocracia. Isso saturou o povo. As pessoas querem menos imposto, menos estado. Os ideais liberais estão conseguindo mais espaço nesse contexto. É o melhor momento para isso.

Mas o Brasil possui uma tradição social. Mesmo assim, é possível verificar essa recepção?

De fato, o Brasil é historicamente um país social democrata. Somos mais ligados ao social, como ocorre na maior parte da América Latina. Mas a população latino-americana não está mais feliz com esse tipo de política. Basta acompanhar a situação de países como Venezuela, Bolívia, Argentina. Em todos eles a experiência social deu errado. Isso diminuiu a influência socialista. Até mesmo o Brasil ficou menos à esquerda. O mesmo se verifica no Chile e no Paraguai, países com movimento geral de redução do discurso social. Tendência semelhante pode ser acompanhada no mundo inteiro. Veja por exemplo a eleição do Trump nos EUA, a vitória de Macron na Europa. Existe um movimento global em direção à direita. Talvez isso mude no futuro. Pode ser que o Brasil recupere sua pauta socialista. Hoje em dia, no entanto, a fase é mais para a direita. O momento é ideal para fazer reformas importantes, como a PEC dos gastos, a reforma trabalhista e a reforma do funcionalismo público.

Para o Brasil, qual seria a abordagem liberal mais importante no momento?

Sem dúvida é o corte de gastos. Um começo importante seria tanto nos supersalários do funcionalismo público quanto nos salários do setor, muitos deles desnecessariamente altos. É preciso também reformar a justiça trabalhista. Ela gasta muito mais do que dá retorno à sociedade. Temos igualmente que reduzir nossa carga tributária. O peso dela obriga o brasileiro trabalhar por cinco meses apenas para pagar impostos. Outra urgência importante é cortar os privilégios de alguns funcionários públicos, como o auxílio moradia para juízes. Eles não são necessários e não existem em muitos países. Necessitamos também realizar a reforma da previdência, para que ela possa manter um regime de capitalização e acabar com o presente déficit.

Sua forma de atuação, com vigilância sobre políticos, pode ser arriscada. Como sua família lida com essa situação?

Sempre existe um receio. Quando recebi meu primeiro processo, com oficial de justiça à porta, minha mãe ficou preocupada. Depois do terceiro ou do quarto, ficou mais acostumada (risos). Mas sempre existe essa preocupação com ameaças, com segurança, com perseguição de assessores dos políticos.

Quais foram os processos enfrentados pelo Iles até o momento?

Foram dois processos por parte de Renato Casagrande e um recente, vindo de Linhares. Nossa maior preocupação agora são os de Casagrande, porque as audiências estão próximas. No total, fizemos dois posts sobre Casagrande. Recebemos processos pelos dois. Até aquele momento, todo nosso material sobre ele foi levado à Justiça. Pode ser que aumente. Depois dos processos, produzimos um vídeo comentando e explicando a situação. O vídeo ainda não foi processado, mas não vai ser surpresa se chegar algo.

Qual o conteúdo desses posts sobre Renato Casagrande que motivaram esses processos?

Em um dos posts, comparamos as menções a Casagrande e a Paulo Hartung nas delações da operação Lava Jato. Em outro, comentamos as alianças de Casagrande com o pessoal do PC do B. As fotos que ilustram o post mostram sua presença naquilo que provavelmente foi o aniversário desse partido. Criticamos diversos políticos e não somos processados, porque trabalhamos com a verdade. Como fomos processados duas vezes seguidas por Casagrande, gravamos um vídeo para expor sua atitude antidemocrática. Ele está tentando censurar nosso trabalho. Fizemos esse vídeo para expor um pouco dos empecilhos que a gente enfrenta.

Por que Renato Casagrande parece incomodado com esse trabalho do Iles?

Porque o período eleitoral está chegando. Paulo Hartung, o principal opositor dele, teve atritos com a Polícia Militar, uma classe forte. Para se aproximar dos policiais, Casagrande tenta mostrar que não tem ligação com a esquerda. Isso porque a classe policial normalmente é voltada à direita, contra o socialismo, contra o PT, contra a esquerda no geral. Mas quando fazemos posts mostrando sua antiga relação com a esquerda, Casagrande perde apoio da polícia. Pode ver nos comentários. Vários policias e várias pessoas de direita disseram que não votam mais nele. Casagrande tenta botar um pano sobre esses fatos para não correr riscos.

Estamos em ano eleitoral. Quais são as suas expectativas para o liberalismo no Espírito Santo em 2018?

Prefiro manter minhas expectativas não tão altas assim. Em relação a candidatos com propostas liberais, o Espírito Santo está atrasado em relação a São Paulo. Pode ser que elejamos um ou dois candidatos liberais. Quem sabe, nas próximas eleições, esse número aumente. De qualquer forma, percebo que estamos menos à esquerda. Menos pessoas desse espectro político vão se eleger. Quanto ao Iles, não temos candidato preferido. Preferimos mostrar em quem não se deve votar.

O liberalismo possui uma pauta de combate à imposição da doutrina socialista, que cria polêmica quando exposta em sala de aula. O que acha do movimento Escola Sem Partido?

Na verdade, como liberal, acredito em escola sem estado. O ideal é que as escolas estejam em competição de mercado. Os pais que matriculem os filhos na escola que lhes pareça mais adequada. Porém, como ainda temos de manter escolas estatais, o melhor é que sejam escolas sem partidos. O que vemos é doutrinação pesada nas escolas. Uma pesquisa do Gazeta do Povo informa que 85% dos professores de história são de esquerda. Isso gera risco de doutrinação. É claro que muitos desses professores têm bom senso de analisar a situação. Eles sabem que escola não é lugar de doutrinação política. Mas também há muitos que tentam impor seu pensamento. Para eles, é incômodo o Escola Sem Partido, que nem chega a ser tão radical assim. Tudo que pedem é fixar um cartaz em sala de aula lembrando os deveres dos professores e os direitos dos alunos. Não é nada novo ou prejudicial. Professores que lutam contra isso querem doutrinar. Eles não querem liberdade de cátedra, mas liberdade para fazer o que bem entenderem, inclusive doutrinação política. O Escola Sem Partido não é uma solução definitiva, mas resolve em curto prazo o problema da doutrinação.

Existem comentários de que o mundo acadêmico também possui muita doutrinação política.

Sim, isso é muito comum, especialmente em universidades públicas. Foi o que ocorreu na Ufes, onde incluíram a disciplina "Golpe de 2016". O afastamento da presidente [Dilma Rousseff] foi realizado legalmente, conforme a Constituição. Mesmo assim, insistem que foi golpe. Nas universidades públicas, nossa entrada é um pouco mais difícil por causa desse tipo de posicionamento. Nas privadas, temos mais espaço para atuar. Participei de palestras e de debates em quatro ou cinco universidades privadas. Participei também na Ufes, mas foi preciso o apoio de um professor com ideias políticas de direita. Apesar disso, há dificuldade no geral. Mesmo assim, existe mais espaço do que havia a um ou dois anos atrás.

As redes sociais ampliaram a possibilidade de se expressar, mas também ampliaram a vigilância politicamente correta. Como o Iles se posiciona quanto a isso?

Defendo a liberdade, é o que devemos defender acima e tudo. É claro, sempre surge o contraposto de abuso. Mas isso não deve ser usado para censurar ou diminuir a liberdade nas redes sociais ou das críticas. Medidas como o Marco Regulatório da Internet não é solução. Quem pratica crime abusando de sua liberdade de expressão tem de ser punido separadamente. Não se pode prejudicar a liberdade de todos usando esses crimes como justificativa.

A leitura com certeza é fundamental ao trabalho do Iles. Pode recomendar alguns livros?

A recomendação mais importante que faço é o "Guia politicamente incorreto da história do Brasil", de Leandro Narloch. Ele informa como a história do Brasil tem sido manipulada. Ao mesmo tempo, informa como alguns líderes brasileiros foram importantes e, no entanto, por uma questão doutrinária, foram esquecidos. Outro livro que recomendo bastante é o "As seis lições", de Ludwig Von Mises. Ele explica a economia em seis lições essenciais e indispensáveis para entender o assunto. Se quiserem mais, podem acompanhar as obras que divulgamos em nossa página. Temos também cronograma de estudos.


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