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Crime no Brasil: sim, nós podemos vencer - Editorial

Editorial Crime no Brasil: sim, nós podemos vencer

Neste ano eleitoral, o debate sobre a segurança enfim ganha atenções. Sua inclusão causa até mesmo surpresas no cenário. De repente, um candidato obscuro faz propostas sobre o assunto e alcança grande aceitação. Isso revela como o tema se tornou urgente. Vencer o crime é prioridade. Não importando o candidato, felizmente essa vitória é possível.

No contexto atual, acreditar nessa vitória pode ser difícil. Os dados impõem uma sensação vertiginosa de derrota. Segundo a organização mexicana Seguridad, Justicia y Paz, das 50 cidades mais violentas do mundo, 17 são brasileiras. É fácil confirmar esses dados. Nas ruas brasileiras, parece não haver limite à ação dos criminosos. Assaltos e roubos são flagrados a todo tempo por câmeras de segurança.

Como chegamos aqui? A resposta provavelmente inicia na redemocratização do país. Fizemos na época uma aposta exagerada em inclusão. Imaginamos que essa seria a panaceia perfeita para deixar as ruas seguras. Calcificamos a ideia de que a causa do crime é a "falta de oportunidade". Cremos em uma relação inversa entre crime e desenvolvimento.

Essa crença ingênua parece ter chegado ao extremo da caricatura. De repente, "se diplomarmos estupradores, educarmos assaltantes e empregarmos traficantes, eles abandonarão o crime". Uma conclusão que tem nos obrigado a lutar de maneira tragicamente equivocada.

A região nordeste do Brasil demonstra que o desenvolvimento não expurga o crime. No auge da hegemonia progressista, a região recebeu atenção privilegiada. O Programa de Aceleração do Crescimento injetou naqueles estados aportes volumosos de investimento. O resultado foram as maiores taxas de desenvolvimento do país.

Infelizmente, isso não aperfeiçoou em nada a segurança. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, da Pnad e do DataSus demonstram que esse desenvolvimento foi acompanhado por uma escalada vertiginosa de crimes contra a propriedade e contra a vida. Se desenvolvimento combate crime, isso não deveria ter acontecido.

Além disso, a própria lógica revela que exclusão não explica o crime. Como afirmam os autores de Elite da tropa, muitas pessoas pobres e excluídas são íntegras. Além disso, muitas pessoas ricas e incluídas são criminosas. Dizer que pobreza gera crime é uma ofensa aos de menos posse. 

Nossa aposta em inclusão tem nos feito perder a luta contra o crime. Felizmente, ainda há chance de vencer. Isso exige abandonar essa luta contra abstrações como "fatores de criminalidade". É preciso combater o criminoso, o verdadeiro culpado pelo crime. Existe um limite para a ação deles. Nós podemos acuá-los até esse limite.

Para entender isso, basta abrir qualquer seção policial de jornais. Busque pela notícia de alguém que tenha sido detido. O suspeito com certeza possui uma extensa ficha criminal. A informação é importante: ela revela que a maior parte dos crimes é cometida pelos mesmos criminosos de sempre.

Qual seria essa proporção? É possível ter uma ideia razoável. A dica é do economista Thomas Sowell, que usa para isso uma teoria chamada "ótica de Pareto". Segundo essa ótica, 80% dos resultados surgem de 20% dos esforços. Aplicado ao crime: 80% dos crimes são cometidos por 20% de criminosos reincidentes.

Na prática, se detivermos esses 20% de criminosos, podemos evitar 80% dos crimes. Essa guerra pode ser vencida. Para isso, temos de mudar alguns paradigmas em nossa forma de entender e de combater o crime.

A primeira mudança deve ocorrer em nossa explicação para o crime. Um começo interessante são as ideias do autor Stanton Samenow. Segundo ele, o criminoso não é alguém excluído. Antes, é alguém que se imagina superior às regras sociais. Ele rejeitou a sociedade muito antes de a sociedade o rejeitar. Ele não é vítima da sociedade, a sociedade é vítima dele.

A segunda mudança necessária é destruir a barreira que construímos entre segurança e democracia. Anos de ditadura nos fizeram associar segurança à repressão. De repente, passamos a acreditar na falácia de que temos polícia e prisões demais. Sob a lógica dos 20% de Pareto, o nível de crimes no país alerta que em verdade temos polícia e prisões de menos.

A luta contra o crime no Brasil pode ser vencida. Isso exige abandonar os paradigmas que nos impedem de lutar de forma correta. Temos de entender (ou melhor, aceitar) que não existe algo como "fator de criminalidade". O único responsável pelo crime é o criminoso – além, claro, da conivência de uma lei que ignora essa verdade dura e incontornável, mas libertadora.

A redação.


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