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A vigilante do amanhã: Ghost in the shell respeita original, mas tem problemas inexplicáveis - Em cartaz

Em cartaz A vigilante do amanhã: Ghost in the shell respeita original, mas tem problemas inexplicáveis

   

Scarlett Johansson faz bom trabalho como protagonista, em adaptação de mangá e animação clássicos que se complica ao utilizar embranquecimento na própria trama.

Em exibição nos cinemas do Espírito Santo:
  • CINE RITZ SUL - Shopping Sul - (28) 3521-6421
  • CINEMAGIC NORTE SUL -  Shopping Norte Sul - (27) 3317-4040
  • KINOPLEX PRAIA DA COSTA - Shopping Praia da Costa - (27) 3320-6000
  • CINESERCLA PÁTIO MIX LINHARES - Pátio Mix - Linhares - (27) 3373-2974
  • CINESERCLA SHOPPING MONTSERRAT - Avenida Eldes Scherrer de Souza, 2162 - Bairro Colina de Laranjeiras - Serra - ES - (27) 3221-5240
  • CINE RITZ GUARAPARI - Shopping Guarapari - (27) 3350-2001
  • CINEMARK VITÓRIA -  Shopping Vitória - (27) 3335-1000
  • CINEMARK SHOPPING VILA VELHA - Em frente a Universidade Vila Velha - (27) 3345-7641
  • MULTIPLEX ARAÚJO - Shopping Mestre Álvaro - (27) 3211-0000
  • CineRitz Conceição - Conceição da Barra - 3264-3566

Mais ou menos como sua protagonista, "A vigilante do amanhã: Ghost in the shell" tem um exterior extremamente arrojado, é visualmente atraente e muito eficaz em momentos de ação, mas em seu interior parece faltar alguma coisa. O filme, que adapta a saga clássica criada por Masamune Shirow em 1989, estreia nesta quinta-feira (30) no Brasil enquanto enfrenta grandes expectativas e mais uma chuva de acusações de "embranquecimento" ("whitewashing", no termo em inglês) de seus protagonistas. Assista ao trailer no vídeo abaixo.

São dois fardos pesados, mas o filme consegue lidar bem com o primeiro — ao mesmo tempo em que mete os pés pelas mãos em relação ao segundo. O respeito por "O fantasma do futuro", longa animado de 1995 que ajudou a formar o culto pela franquia, é claro durante toda a produção e deve agradar aos fãs, mas algumas escolhas centrais à trama jogam na cara do público um problema que poderia passar batido para a maioria.

Scarlett Johansson é a Major, uma agente de um grupo anti terrorista que luta contra ameaças não apenas físicas mas digitais, em um futuro no qual grande parte da população possui implantes robóticos e está sujeita a hackers tal qual computadores.

Ela mesma se tornou um dos exemplos mais avançados dessa evolução, ao ter seu cérebro humano implantado em um corpo totalmente mecânico para salvar sua vida após um incidente traumático. Procedimento, é claro, que lhe concede uma série de habilidades de combate, mas que também impede que ela lembre de seu passado — a "fantasma dentro da couraça" (em uma tradução tosca) do título original.

A construção do mundo cyberpunk multicolorido é um dos grandes méritos do diretor Rupert Sanders, que já havia mostrado em "Branca de Neve e o Caçador" (2012) suas habilidades em narrativas visuais, e suas fraquezas em construir algo que fosse além disso. Sob seu comando, as cenas de ação se transformam em belas criações dignas da animação. Já a trama complexa do original se transforma em uma jornada simplista de conspiração e traição, cujas reviravoltas podem ser previstas por qualquer um familiar com o gênero a quilômetros de distância.

O elenco, pelo menos, se mostra iluminado. A Major de Johansson até lembra muito personagens anteriores — uma mistura de "Lucy" (2014), "Sob a pele" (2013), sua Viúva Negra da Marvel e até "Ela" (2013) — da atriz, mas tem uma linguagem corporal única, que a distingue das demais. A seu lado, o Batou do dinamarquês Pilou Asbæk ("Game of thrones") tem personalidade suficiente para merecer mais tempo de tela nas inevitáveis continuações, e o chefe da organização, Aramaki, brilha na interpretação do veterano japonês "Beat" Takeshi Kitano ("Zatoichi").

Diante das acusações de "embranquecimento" da protagonista, a produção afirmou que a história se passa em uma sociedade multirracial, na qual a escalação de uma atriz ocidental para o papel principal não deveria ser considerado "whitewashing". De certa forma, "A vigilante do amanhã" até consegue sustentar o argumento com a diversidade de seus atores, mas joga a justificativa fora ao colocar, inexplicavelmente, a transformação como um dos pontos centrais da trama.

O que parece a princípio se tratar de uma homenagem à saga criada no Japão não sobrevive a uma análise minimamente aprofundada. Seria fácil ignorar a troca de etnia da personagem se o filme fizesse o mesmo. Há beleza e aspectos positivos suficientes para esquecer das acusações, ou ao menos relevá-las. Ao invés disso o longa coloca como um dos antagonistas uma corporação que por algum motivo transforma japoneses em pessoas não apenas brancas, mas loiras e de olhos claros.

Com isso, a nova versão de "Ghost in the shell" até faz justiça a todo o culto que envolve a saga da major Motoko há décadas e não deve decepcionar seus fãs, que precisam apenas superar as escolhas equivocadas do roteiro. No entanto, pode ter dificuldades para atrair um público mais amplo, já que simplifica demais uma história que influenciou inúmeros sucessos desde sua criação — de "Matrix" (1999) a "Minority Report" (2002).

E que não se diga mais uma vez que um estúdio investiu centenas de milhões de dólares apenas para agradar aos fãs antigos, principalmente em mundo controlado por grandes franquias e universos integrados. "A vigilante do amanhã" tem uma missão clara, e é muito maior do que combater cyberterroristas.




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