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CPI pede fechamento de canil clandestino em Vila Velha - Maus-tratos

Maus-tratos CPI pede fechamento de canil clandestino em Vila Velha

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga maus-tratos a animais no Espírito Santo vai pedir à Prefeitura de Vila Velha o fechamento imediato do canil Blue Point, que funciona de forma clandestina, sem alvará, na chácara Retiro do Congo, em Vila Velha. De acordo com denúncias, lá cirurgias em cães eram realizadas por uma mulher de 21 anos, que não é veterinária.

O anúncio foi feito pela presidente do colegiado, deputada Janete de Sá (PMN), durante reunião extraordinária realizada na noite de terça-feira (28) para ouvir Nicole Presotti, dona do estabelecimento, e Letícia Medeiros Oliveira, acusada de realizar as cirurgias de forma ilegal.

Letícia Medeiros Oliveira admitiu ser a pessoa que aparece em vídeos postados nas redes sociais operando os animais, apesar de não ter diploma universitário e registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV).

Ela se negou a responder a várias perguntas e alegou que realizava os procedimentos na presença de uma veterinária. Questionada sobre a identidade da médica veterinária que supostamente a monitorava, Letícia Oliveira preferiu ficar em silêncio, dizendo que já havia respondido sobre isso na polícia e no CRMV.

A veterinária Viviane Starling Schwanz, convocada pela CPI para esclarecer as relações que mantinha com o canil, diante da citação do nome dela nas denúncias sobre o caso, negou ser a profissional que orientava Letícia durante as operações. "Jamais acompanhei ou supervisionei a Letícia nesses atos", afirmou.

Schwanz admitiu ter realizado cirurgias em cães no estabelecimento, mas alegou que foram procedimentos esporádicos. Ela afirmou que não tinha vinculo empregatício com Nicole Presotti e que nunca recebeu dinheiro pelos serviços prestados, que aconteciam numa espécie de permuta, uma vez que deixava animais sob os cuidados do canil, já que vive no Brasil e em Portugal.

Questionada por Janete de Sá sobre o fato de realizar operações em centro cirúrgico de canil clandestino, Viviane alegou que não sabia da condição ilegal do estabelecimento. "Assim que tomei conhecimento não fiz mais isso e fui ao conselho (de veterinária) com a Nicole na tentativa de que ela regularizasse tudo".

A veterinária disse que, desde junho de 2016, não foi mais ao canil e teve conhecimento de que cirurgias no estabelecimento foram realizadas pelo menos até outubro do ano passado.

Sem anestesia

Schwanz relatou aos membros da CPI que teve informações de que cães operados no canil não eram anestesiados. Recebiam apenas um sedativo, de nome "Centra". Esse medicamento, conforme explicou, impede os animais de se mexerem durante o ato cirúrgico, mesmo se estiverem sentindo dor.

A veterinária foi questionada sobre carimbo de sua propriedade deixado no canil e que foi utilizado para a compra de vacinas e medicamentos indicados para cirurgias de animais. Ela mais uma vez negou envolvimento com o estabelecimento, alegando que deixava vários pertences no local quando viajava para Portugal, inclusive carro particular, pois é amiga de Nicole Presotti há mais de 20 anos.

Carimbo

CPI Maustratos_28032017_baixa_Tonico(2).JPGRosana Oliveira, que assistia aos depoimentos, pediu para se pronunciar e denunciou Letícia Medeiros por utilizar ilegalmente o carimbo da veterinária. "Eu levei meu cachorro lá (no canil) para ser vacinado. A Letícia vacinou, carimbou e assinou no lugar da Viviane. No cartão de vacina tem tudo", declarou, sem apresentar o documento.

Os veterinários presentes na oitiva confirmaram que se trata de castração de animal um ato cirúrgico que aparece em um dos vídeos postados nas redes sociais denunciando o canil. Na imagem não aparece o rosto de quem realiza o procedimento. Letícia Oliveira negou que seja a responsável. Já a veterinária disse que não realizou cirurgias de castração no local.

A CPI coletou também o depoimento do veterinário Marcelo Athadeu. Ele confirmou ter realizado cirurgias em cães levados até ele por Nicole Presotti. Nenhuma dessas operações, segundo disse, aconteceu no canil Blue Point. Todas foram feitas na clínica veterinária Santa Teresa, que funciona no centro de Vila Velha.

Cães de raça

Nicole Presotti foi desmentida durante o depoimento por uma pessoa que acompanhava a reunião da CPI quando tentava construir a tese de que não comercializa cães de raça, e que mantinha o canil com a finalidade exclusiva de reunir animais para expô-los em eventos nacionais e internacionais.

A estudante Áxia Junia Soares afirmou que a dona do canil estava mentindo porque ela própria trabalhou mais de 30 dias vendendo cães de raça para Nicole Presotti. Nessas transações, três cachorros teriam sido vendidos. A estudante contou que desistiu da empreitada porque a proprietária do estabelecimento não cumpriu a promessa de recompensá-la com 10% do valor das vendas.

Outra pessoa que acompanhava a reunião da CPI pediu a palavra e também desmentiu a dona do canil. Ela afirmou que chegou a pagar R$ 15 mil por um suposto filhote de uma cadela de nome Carol vendido por Presotti. A denunciante suspeitava de que havia sido ludibriada, pois recebera informações, depois de fechar o negócio, de que o filhote não era cria de Carol.

Nicole Presotti informou que os principais cães mantidos no canil são das raças spitz alemão, maltês e yorkshire. Segunda ela, eles têm preços que podem chegar a R$ 7 mil. Ela afirmou, ainda, que os mantêm lá apenas com a finalidade de exibi-los em competições em diversas partes do mundo, acrescentando que em algumas delas chegou a ganhar troféus como expositora.

A diretora do CRMV, Aline Alvarenga, informou que a entidade abriu investigações sobre a prática ilegal de medicina veterinária no canil Blue Point. Se ficar comprovado o envolvimento da veterinária Viviane Schwanz ou de qualquer outro profissional do segmento nas irregularidades denunciadas, há o risco de perda do registro no conselho, além de responsabilização criminal.

A CPI vai investigar denúncias de que cães estariam sendo transferidos do Blue Point para outro canil localizado no município de Iconha, desde que o escândalo veio à tona nas redes sociais e na mídia.

Nicole Presotti informou que há 64 animais recolhidos no local, o que reforçou as suspeitas, pois a deputada Janete de Sá disse ter contado mais de 100 animais no canil clandestino durante uma visita surpresa feita recentemente pela CPI no estabelecimento, juntamente com representantes do CRVM, da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e de entidades protetoras de animais.

Wanderley Araújo/Web Ales


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